Hidrogênio verde: o motor silencioso da nova indústria nacional
Pouco a pouco, o Brasil está assumindo um papel de destaque na corrida global pelo hidrogênio verde. Essa nova frente energética não só reforça o compromisso com fontes limpas, como também posiciona o país como referência tecnológica e industrial nesse setor emergente.
Com cerca de 83% de sua matriz energética baseada em fontes renováveis, o Brasil parte de uma base sólida. E é justamente essa vantagem que o coloca entre os líderes da transição energética mundial.
A produção de hidrogênio verde, especialmente por eletrólise da água, tem chamado atenção como solução para setores que, até hoje, enfrentam dificuldades para descarbonizar, como mineração, siderurgia e processos térmicos industriais. O potencial é enorme: estima-se que o país possa produzir até 1,8 gigatonelada por ano, sendo a maior parte disso (90%) com energia limpa.

Eletrolisadores: por que eles são tão importantes?
Os eletrolisadores são máquinas que fazem a eletrólise da água. Basicamente, eles separam o hidrogênio (H₂) do oxigênio (O₂) usando eletricidade. Se essa eletricidade vier de fonte renovável, como solar ou eólica, o resultado é o chamado hidrogênio verde. Ou seja, sem emissão de carbono no processo.
Os principais tipos de eletrolisadores hoje:
Alcalinos
- Eficiência entre 62% e 82%;
- Duram bastante: mais de 60 mil horas de operação;
- Custam menos para operar;
- São muito usados em aplicações industriais de grande porte.
PEM (com membrana de troca de prótons)
- Eficiência de 70% a 80%;
- Se adaptam rápido a variações de carga;
- Funcionam bem onde é preciso mais controle e precisão.
Inovação nacional com cascas de camarão e ciência
Uma das inovações mais interessantes vem do Ceará, mais precisamente da Universidade Federal do Ceará (UFC). Lá, o físico Santino Loruan desenvolveu uma membrana feita de quitosana, um biopolímero extraído de cascas de camarão e caranguejo — materiais abundantes e normalmente descartados.
Essa membrana substitui componentes sintéticos importados e tem várias vantagens:
- Barateia o processo, usando resíduos da pesca;
- É biodegradável, o que a torna mais sustentável;
- É brasileira, o que ajuda a diminuir a dependência externa;
- Já foi patenteada e pode ser licenciada por empresas.

Onde tudo está acontecendo: hubs e projetos pelo Brasil
Ceará: referência nacional
O estado do Ceará se transformou em um dos principais polos do hidrogênio verde no país. Só no Porto do Pecém, já foram anunciados R$ 110,6 bilhões em investimentos. Alguns destaques:
- Fortescue: R$ 17,5 bilhões para uma planta de 1,2 GW (podendo chegar a 2,1 GW)
- Casa dos Ventos: Vai investir US$ 900 milhões em uma planta própria
- EDP Brasil: Iniciou a primeira produção certificada no Complexo Termelétrico do Pecém
Outros estados também estão se movimentando
- Pernambuco: A White Martins montou a primeira planta certificada da América do Sul, em Suape — são 156 toneladas por ano com alto grau de pureza.
- Bahia: A Unigel colocou em operação a primeira fábrica de hidrogênio e amônia verde do país, com quatro eletrolisadores que somam 60 MW.
- Minas Gerais: A UNIFEI criou um centro de pesquisa, enquanto a Atlas Agro está desenvolvendo um projeto em Uberaba.
Leis e incentivos: empurrão para crescer mais rápido
A Lei nº 14.948/2024 criou o marco legal do hidrogênio de baixa emissão. Além disso, ela prevê R$ 18,3 bilhões em incentivos até 2032. Veja alguns pontos-chave:
- Limite de emissões: até 7 kg CO₂eq por kg de hidrogênio até 2030
- Criação do SBCH₂ (Sistema Brasileiro de Certificação do Hidrogênio)
- Rehidro: regime especial de incentivos
- Suspensão de PIS/Pasep e Cofins por cinco anos
Panorama econômico: o futuro já está sendo construído
Atualmente, o país já acumula R$ 454 bilhões em investimentos, distribuídos por 111 projetos e com capacidade total de 43 GW. É muito, especialmente se considerarmos que 41% disso está concentrado no Ceará.
Outros dados importantes:
- Distribuição por regiões: Nordeste, Sudeste e Sul
- Geração de empregos técnicos: quase 3 mil por ano
- Projeções até 2030: entre 0,6 e 1,1 milhão de toneladas/ano
- Projeções até 2050: entre 21 e 32 milhões de toneladas/ano
- Potencial global: o Brasil pode atender até 10% da demanda mundial
O mundo está de olho no hidrogênio brasileiro

Parcerias em andamento:
- União Europeia: vai destinar €2 bilhões para produção no Brasil
- Alemanha: primeiro país a abrir leilões para importar hidrogênio verde
- Holanda: trabalha no corredor marítimo Brasil-Europa, via Porto de Rotterdam
De acordo com estudos, o Brasil é um dos países mais competitivos do mundo para produzir hidrogênio verde. No Nordeste, por exemplo, o custo projetado até 2030 é de apenas US$ 1,47 por quilo, um dos mais baixos globalmente.
Conclusão: a hora é agora
O Brasil está construindo um caminho sólido rumo à liderança mundial na produção de hidrogênio verde. A combinação entre abundância de recursos naturais, inovação local e políticas de incentivo cria um ambiente ideal para o crescimento do setor.
Para empresas que querem reduzir sua pegada de carbono e investir em soluções de energia limpa, o momento é esse. O hidrogênio verde não é só o futuro, ele já está mudando a indústria hoje.
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